quinta-feira, 25 de julho de 2013

Minha formação como escritor e minhas obras publicadas



“Um livro é o meio mais seguro, de
maior alcance e impacto
para promover ideas na
sociedade.”

Ribamar Diniz



Desde criança tive um interesse pelas artes, especialmente pelo desenho. Acabei por não desenvolver-me nessa área, a diferença de meu irmão mais velho, que se tornou artista plástico e posteriormente empresário na área de comunicação visual. Na adolescência, para divertir-me, eu desenhava quadrinhos e criava seus diálogos. Esses foram os primeiros textos que escrevi. Nessa época eu era um leitor assíduo de histórias em quadrinhos. Como sucede quase sempre, antes de ser um escritor, fui um bom leitor. 

Também lia frequentemente literatura de cordel, devido ao interesse de minha mãe (Maria Francisca Diniz Barbosa)nesse estilo. Apesar denão incentivar-me diretamente ela foi fundamental em minha formação como escritor. Com muito sacrifício manteve-me na escola, onde aprendi a ler e escrever. Mamãe também possuicerta habilidade para a poesia ecompunha textos breves, sobre sua situação de vida naqueles anos difíceis da década de 1980. Também me contou que meu bisavô, o senhor Zé Diniz, era repentista e poeta. Por ter herdado parcialmente da família o talento literário, uso o sobrenome Diniz em meus escritos. Embora meus genes carreguem um pouco da alma literária, foi depois de ingressar na Igreja Adventista do Sétimo que desenvolvi esse talento.

Devido ao fato de vir do campo (interior de Milagres) para Juazeiro do Norte, no Nordeste brasileiro, fui para escola um pouco tarde. Embora minha mãe tenha sido minha primeira professora, aprendi a ler na Escolinha particular de Dona Cícera, que ensinava com muita dedicação. Com nove anos minha mãe conseguiu, com muita insistência, matricular-me na primeira série no Ginásio Franciscanos, um colégio católico de boa qualidade na cidade. Desde pequeno, fui muito aplicado nos estudos. Embora gostasse de matemática, escrevia beme tirava boas notas nas redações.

No final do Ensino Fundamental, redigi algumas frases para um romance épico, abandonando o projeto depois de conhecer a mensagem adventista. Já no Ensino Médio, estudando no Ginásio Governador Adauto Bezerra, também em Juazeiro, escrevia frases e pensamentos nos cadernos.Alguns anos depois, esse material seria incluído em meu primeiro livro.

Nessa fase, recebi a influencia de dois professores que eram escritores. Wilma Maciel, professora de redação, elogiava meus trabalhos nessa matéria. Dona Wilma ficou muito contente quando eu lhe vendi meu primeiro livro, alguns anos depois. Nessa época escrevi uma poesia que quase chegou ao final de um concurso no colégio. Mas, justamente na etapa final, a colega que o recitava não pôde comparecer. O segundo escritor foi Pedro Bandeira, que promovia suas obras junto aos alunos. Quando lhe apresentei meu livro, anos depois, fui aconselhado a usar apenas um nome e um sobrenome, e não meu nome completo, como fazia até então. Por isso, defini meu nome como autor ainda em 2003: Ribamar Diniz.

Quando ingressei na Igreja Adventista, em 1996, passei a ler e distribuir a literatura da denominação com muito entusiasmo. Isso fortaleceu o desejo de ser, eu próprio, um escritor, para difundir as mensagens que havia aprendido. O contato com a Bíblia e com a literatura adventista foi fundamental para formar minha cosmovisão, a qual serviria de plataforma na hora de expor minhas ideias. Quando estava cumprindo os requisitos para obter o nível de Líder de Desbravadores e de Jovens (agremiações juvenil e jovem da Igreja Adventista), escrevi vários relatórios e um artigo sobre o Santuário, intitulado “O Centro da nossa esperança.” Infelizmente perdi esse precioso material, que considero meu primeiro artigo.

Minha primeira obra foi o cordel “A internet de Deus”, publicado pelo Serviço Social do Comercio (SESC) de Juazeiro, no projeto “Novo talentos”. Esse cordel havia sido escrito para patrocinar a viagem de um grupo de jovens a um Congresso na capital cearense.O SESC me brindou 500 exemplares e distribuiu o restante pelo Brasil. Escrevi esse cordel em umas duas horas.Como acontece em algumas ocasiões, as ideias fluíram naturalmente. Às vezes, simplesmente começo a escrever e as ideias vêmà mente. Por isso, creio que Deus, conforme é ensinado nas Escrituras (Efésios 4:7-14), transformou meu talento natural em um dom para edificar espiritualmente os demais.

Meu primeiro livro, O alicerce da ação: textos e frases para reflexãofoi publicado em 2003, quando eu tinha apenas 25 anos.Quando cursava o bacharelado em teologia pelo Instituto Superior de Teologia Aplicada (INTA), escrevivarias frases, pensamentos e textos reflexivos. Junto com os textos que compilei dos cadernos do Ensino Médio, esse material formou a obra. Ivancy Pereira Araújo, que é bacharel em Teologia e pastor adventista, revisou o material, dando oportunas sugestões e seu irmão, Ivay Araújo, prefaciou a obra.
Depois de concluir o livro,tive dificuldades para financiá-lo. A escritora Fátima Menezes me deu uma ideia. Vender o livro antecipadamente, e entregá-lo depois de publicá-lo. Imprimi a obra em formato de apostila e saí em busca de clientes, completando o valor através de patrocínios conseguidos junto a empresas locais. Foi muito emocionante quando o proprietário da HB Gráfica, uma das melhores da cidade, fez a entrega dos 500 exemplares. A apresentação, feita por Jean de Souza, aconteceu no auditório do SESC. Na ocasião, entreguei um exemplar a minha mãe, agradecendo seus esforços em educar-me. Posteriormente negociei os diretos autorais do livro com o INTA. A publicação desse opúsculo de 52 páginas foi uma experiência difícil, porém enriquecedora e motivadora no início de minha carreira.

Quando exerci os cargos de Coordenador Distrital de Jovens e Regional de Desbravadores (entre 2005 e 2007), preparei alguns manuais (apostilas) para as atividades. O primeiro deles foi Clube do ano bíblico: o que é e como formar um em sua igreja. Outro material foi Guia para novos desbravadores e os manuais de orientação para três eventos regionais que coordenei, nesse período.  

Depois de ler o volume Nossa Herança: Capítulos de nossa história de interesse dos jovens apaixonei-me pela história e missão da Igreja Adventista. Por isso, decidi escrever uma obra sobre história eclesiástica. A partir de 2004, dediquei quase cinco anos para pesquisar a história do Adventismo em Juazeiro do Norte, escrevendo Conheça nossa historia: origem e expansão dos adventistas do sétimo dia em Juazeiro do Norte.Esse trabalho foi revisado pela minha irmã mais nova, que é formada em Letras.

O que precipitou sua publicação foi minha decisão de estudar no exterior, no final de 2007. Para concluir o livro, passei praticamente quatro noitesseguidas sem dormir. A impressão dos 500 exemplares foi de baixa qualidade, devido ao trabalho artesanal que encomendei. Apesar disso, fizemos o lançamento na Igreja Adventista Central de Juazeiro, com a presença de um bom público, inclusive alguns pioneiros. Disseminei esse material na região do Cariri, em São Paulo e Cochabamba.

Quando viajei para a Bolívia, a fim de estudar a licenciatura em teologia na Universidade Adventista da Bolívia (UAB), tive a oportunidade aperfeiçoar-me como escritor e posicionar-me como autor. A influencia dos professores e das atividades acadêmicas, além da participação como secretário do Centro White e vice-presidente da Sociedade Honorífica de Investigação Teológica e membro das equipes editoriais das revistas Evangelho e Doxacontribuíram para refinar minhas habilidades. Nessa fase redigi oito artigos para esses periódicos (entre 2008-2013).

Além dos artigos, revisei e ampliei o manuscrito de Conheça nossa história com a intenção de lançar uma segunda edição independente.Durante a pesquisa, conversei com o doutor Ruy Viera (presidente da Sociedade Criacionista Brasileira, SCB) sobre a história do Adventismo no Nordeste brasileiro. Ele confessou que não tinha informações a respeito, mas que um dos diretores da entidade era dessa região e possivelmente poderia apoiar-me financeiramente. Ele pediu-me para enviar um e-mail com o manuscrito do livro. Alguns dias depois, tive a grata surpresa de receber um comunicado de que a própria SCB publicaria o opúsculo.
Com o Dr. Érico Xavier no lançamento de
O Adventismo na Terra do Pe. Cícero

Nesse contexto, o Dr. Ruy sugeriu que publicássemos um novo livro, já que o conteúdo era bem diferente do primeiro. O título escolhido foi O Adventismo na terra do Padre Cícero: uma história de fé, perseguição e milagres. O livro(minha primeira obra publicada por uma editora) foi lançado noSalão de Projeções da UAB, em abril de 2012. No Campus foram vendidos cerca de 200 exemplares. Os outros 800 foram distribuídos graças ao apoio de Josimar Souza, durante três períodos de férias, em Campo Grande, Ladário e Corumbá e Brasília, respectivamente.

O quarto livro foi o mais desafiador. Apresentei o projeto deescrevermos nossaexperiência estudantil, aos companheiros de curso na UAB. Eles gostaram da ideia, pediram-me para ser o editor principal da obra Cuando Dios me llamó: personas comunesa lcanzando un sueño imposible[Quando Deus me chamou: Pessoas comuns alcançando um sonho impossível] e concederam-me os direitos autorais. Apesar de vários problemas enfrentados, finalmente o projeto se concretizou, em novembro de 2012. Os 1.000 exemplares foram distribuídos entre os colegas e no próprio campus universitário. 


Nesse projeto, liderei um grupo de 32 colaboradores, de seis países diferentes. Esse foi meu primeiro trabalho como editor de livros e minha primeiraobra em espanhol. Devido aos erros involuntários presentes, decidi publicar uma segunda edição, revisada magistralmente por Lionel Celano. O plano se tornou realidade em junho de 2013, com 16 histórias e um novo subtítulo: testimonios inspiradores para una vida de servicio[testemunhos inspiradores para uma vida de serviço]. Para divulgar o material, viajei a cidade de Arica, situada no Norte do Chile, em julho de 2013.

Para o futuro, temos outros projetos audaciosos, anelando um dia poder ver esses livros nas estantes das grandes livrarias. Peço a Deus sabedoria (Tiago 1:5), para que, ao expor em tinta e papel as ideias, glorifique meu Criador e contribua para levar esperança a muitos corações. 



Arica, Chile, 23 de julho de 2013.



Ribamar Diniz

Bacharel em Teologia e Licenciado em Ensino Religioso pelo Instituto Superior de Teologia Aplicada; Diplomado em Investigação Científica pela Escola de Pós-graduação da Universidade Adventista da Bolívia, onde cursa uma licenciatura em Teologia. É membro da Sociedade Criacionista Brasileira, vice-presidente da Sociedade Estudantil Honorífica de Investigação Teológica; editor da Revista Doxa e do blog www.benditaesperanca.blogspot.com.Seus artigos podem ser lidos em http://bo.acadmia.edu/RibamarDiniz.Contato: ribamardiniz@hotmail.com.

Conselho para jovens escritores

Que conselho a senhora daria para
o jovem adventista do sétimo dia que
sente que tem o dom para escrever obras
literárias?

Meu conselho para qualquer jovem escritor é ler o máximo possível e escrever tanto quanto possível. E não desistir, porque a escrita – especialmente a escrita para publicação – pode ser um processo muito desanimador. Além disso, qualquer um que decide escrever tem que encontrar sua própria voz edescobrir o que dizer e a quem dizer. Para algumas pessoas, isso pode significar a escrita para a igreja, em revistas e periódicos adventistas. Mas acho que há uma tremenda necessidade – nãosó na escrita, mas também em todas as artes – de adventistas capazes de se envolver com o mundo real. Como igreja, precisamos de mais pessoas que sejam capazes de se relacionar com o mundo de maneira que não seja apenas através de esforços evangelísticos. Há necessidade de mais escritores adventistasque se relacionam com o mundo da mesma forma que um engenheiro ou encanador adventista faz. Que sejam capazes de, por meio de seu ofício, explorar nossa visão única de mundo.

Trudy Morgan-Cole
Escritora profissional, com mais de 20 livros publicados em inglês, espanhol e português.

Fonte:Revista Diálogo Universitário, Vol. 23, Número 1, 2011, pág. 27.

Nota: Um dos livros dessa autora publicado em português é Filhas da Graça, editado pela Casa Publicadora Brasileira.  




A arte de escrever bem para o bem

Há livros para ser lidos e outros para ser degustados. A Arte de Escrever, de Arthur Schopenhauer, está na segunda categoria – não por acaso: do começo ao fim, o autor aplica as regras que ensina. Escrito na primeira metade do século 19, o livro surpreende justamente por ter sido produzido por um filósofo alemão. Seus pares são conhecidos pelas obras massivas (e, às vezes, maçantes) que legaram ao mundo. Mas Schopenhauer é diferente. Segundo ele, “um bom cozinheiro pode dar gosto até a uma velha sola de sapato; da mesma maneira, um bom escritor pode tornar interessante mesmo o assunto mais árido” (A Arte de Escrever, p. 21 – L&PM, 2005).

Clareza e estilo vivo marcam a obra do filósofo. Ele é o tipo de autor que lapida o texto como se cada palavra devesse ter o sentido exato para o qual foi designada, a fim de que o leitor não entenda nada além do que o autor quis dizer. O texto deve ser claro e fácil de entender, pois, “se lemos algo com dificuldade, o autor fracassou”, conforme escreveu Jorge Luis Borges. O tempo e a paciência do leitor também devem sempre ser considerados por quem escreve, ainda que seja apenas um e-mail. Por isso, as dicas de Schopenhauer valem para todos os que redigem – desde um bilhete até um livro.

A Arte de Escrever não trata apenas da escrita, mas dos atos de pensar e ler. Para o autor, mais do que obter informação, devemos ter pensamentos profundos oriundos de reflexão. Mas o que nos interessa aqui são suas dicas de redação: “Não há nada mais fácil do que escrever de tal maneira que ninguém entenda; em compensação, nada mais difícil do que expressar pensamentos significativos de modo que todos os compreendam. O ininteligível é parente do insensato, e sem dúvida é infinitamente mais provável que ele esconda uma mistificação do que uma intuição profunda. [...] a simplicidade sempre foi uma marca não só da verdade, mas também do gênio. [...] escrever mal, ou de modo obscuro, significa pensar de modo confuso e indistinto. [...] muitos escritores procuram esconder sua pobreza de pensamento justamente sob uma profusão de palavras. [...] É sempre melhor deixar de lado algo bom do que incluir algo insignificante. [...] o sinal de uma cabeça eminente é resumir muitos pensamentos em poucas palavras” (ibid., p. 83, 84, 93).

Outra marca dos escritos de Schopenhauer são as boas metáforas e comparações. Por exemplo: “Os pensamentos obedecem à lei da gravidade, de modo que o caminho da cabeça para o papel é muito mais fácil do que o caminho do papel para a cabeça, então é preciso ajudá-los no segundo percurso com todos os meios à nossa disposição” (ibid., p. 111). Aí entram as dicas de redação e o esforço para escrever bem. Aliás, dizem que Platão redigiu sete vezes a introdução de sua República, com diversas modificações.

Isso me lembra um texto de Graciliano Ramos sobre as lavadeiras de Alagoas: “Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa.”
Outro livro importante para os que se aventuram no mundo das letras é A Redação Pelo Parágrafo, de Luiz Carlos Figueiredo (Editora UnB, 1995). À semelhança de Schopenhauer, Figueiredo defende a organização e o encadeamento dos parágrafos, a fim de ajudar o leitor a acompanhar o raciocínio. Em sua obra, Figueiredo trabalha em seis capítulos, que abordam a organização das ideias, os tipos e tamanhos de parágrafos e a ligação entre eles. Não é à toa que a capa do livro seja ilustrada com uma corrente de letras: cada elo representa um parágrafo (no qual apenas uma ideia deve ser trabalhada) que deve estar ligado ao outro pela ideia central do texto.

Ater-se à ideia central e caprichar na composição de cada parágrafo é como fazer uma boa construção. Para usar outra ilustração schopenhaueriana: “Poucos escrevem como um arquiteto constrói: primeiro esboçando o projeto e considerando-o detalhadamente. A maioria escreve da mesma maneira com que jogamos dominó. Nesse jogo, às vezes segundo uma intenção, às vezes por mero acaso, uma peça se encaixa na outra, e o mesmo se dá com o encadeamento e a conexão de suas frases. Alguns sabem apenas de modo aproximado que figura terá o conjunto e aonde chegará o que escrevem. Muitos não sabem nem isso, mas escrevem como os pólipos de corais constroem: uma frase se encaixa em outra frase, encaminhando-se para onde Deus quiser” (ibid., p. 115).

Ao tratar do tema das incômodas orações intercaladas (que despedaçam o período principal), Schopenhauer diz que “uma pessoa só pode pensar com clareza um pensamento de cada vez; assim, não se pode exigir que pense dois, ou mesmo mais, de uma vez só” (ibid., 115). O mesmo vale para os parágrafos.

Figueiredo afirma que, “na escrita, os parágrafos são as principais partes de determinado texto (artigo, capítulo, entrevista, ensaio, etc.). Para assimilar o texto, o leitor precisa entender as partes, isto é, os parágrafos. E o escritor, para ser entendido pelo leitor, tem que construir textos divididos em parágrafos que espelhem divisão lógica, da qual fazem parte a unidade, a coerência e a consistência” (A Redação Pelo Parágrafo, p. 12). E compara: “Os parágrafos são como ‘prateleiras’ que dividem uma sequência de informações ou pensamentos. Servem para facilitar a compreensão e a leitura do texto, dar folga ao leitor, que acompanha, passo a passo, a linha de raciocínio desenvolvida pelo escritor. [...] O entrelaçamento de um parágrafo com outro, ou a ligação de um raciocínio com outro, dá coesão ao texto” (ibid., p. 13, 14).
Para dar aquela “afiada” no uso da língua, um ótimo e prático livro é A Arte de Escrever Bem – Um guia para jornalistas e profissionais do texto, de DadSquarisi e Arlete Salvador (Editora Contexto, 2004). As autoras também batem nas teclas da concisão e da simplicidade. “A frase curta tem duas vantagens. Uma: diminui o número de erros. Com ela, tropeçamos menos nas conjunções, nas vírgulas e nas concordâncias. A outra: torna o texto mais claro. Clareza é, disparado, a maior qualidade do estilo. Montaigne, há quatrocentos anos, ensinou: ‘O estilo deve ter três qualidades – clareza, clareza, clareza’. [...] Palavras longas e pomposas funcionam como uma cortina de fumaça entre quem escreve e quem lê. Seja simples. Entre dois vocábulos, prefira o mais curto. Entre dois curtos, o mais expressivo” (A Arte de Escrever Bem, p. 23, 27).

As autoras fazem eco a Schopenhauer e destacam, além da clareza, a concisão. “Concisão não significa lacônico, mas denso. Opõe-se a vago, impreciso, verborrágico. No estilo denso, cada palavra, cada frase, cada parágrafo devem estar impregnados de sentido” (ibid., p. 39). Por isso, ler e reler o texto, cortando as “gordurinhas”, sempre faz bem, afinal, como disse Marques Rebelo, “escrever é cortar”.
Finalmente, mas não menos importante (na verdade, é mais), indico o livro O Outro Poder, de Ellen G. White (Casa Publicadora Brasileira, 2010). Quem escreve, assim como quem fala, deveria sempre usar as palavras para ajudar as pessoas a crescer física, mental e espiritualmente, e a melhor maneira de fazer é isso é atraindo “a atenção das pessoas para as verdades vivas da [Palavra de Deus]” (O Outro Poder, p. 9). Escritores cristãos (e não apenas eles, evidentemente) deveriam lapidar seus textos de modo a interessar o leitor para que ele seja levado a considerar seriamente a mensagem de esperança por trás das letras.

Embora, como Schopenhauer, Ellen White tenha escrito seus livros há mais de um século, ela estava à frente de seu tempo no que diz respeito à compreensão do que significa escrever de maneira interessante. Ela aconselhou: “Nossos periódicos devem sair repletos de verdade que apresente interesse vital e espiritual para o povo. [...] Compete a nossas publicações a mais sagrada obra de tornar clara, compreensível e simples a base espiritual da nossa fé” (ibid.). Clareza, compreensibilidade e simplicidade deveriam ser qualidades do texto de todos os que escrevem para o público. O alvo? Ei-lo: “A escrita deve ser usada como meio de semear a semente para a vida eterna” (ibid., p. 13).

A autora também aconselha concisão para manter o interesse: “Concisão deve ser observada, de modo a interessar o leitor. Artigos longos e enfadonhos são prejudiciais à verdade que o escritor pretende apresentar” (ibid., p. 56). Aos leitores, ela aconselha: “Não temos tempo para devotar a assuntos vulgares, nem tempo para gastar com livros que apenas entretêm” (ibid., p. 98).

Um texto bíblico que serve de boa dica para quem quer escrever bem e com eficácia é Habacuque 2:2: “E o Senhor Deus disse: ‘Escreva em tábuas [jornal, folhetos, livros, sites, blogs] a visão que você vai ter, escreva com clareza o que vou lhe mostrar, para que possa ser lido com facilidade’” (NTLH).

Assim, não importa se se trata de um bilhete de porta de geladeira, e-mail, artigo ou livro, escreva com clareza, simplicidade e concisão; releia o que escreveu antes de publicar e coloque o coração em cada palavra. O leitor agradece.

MichelsonBorges
Jornalista, Mestre em Teologia e editor na Casa Publicadora Brasileira.

Nota: O leite materno é a quintessência do que existe em termos de nutrição. Por quê? Porque ele é o melhor que o corpo da mãe pode produzir para o crescimento e a saúde do bebê. O texto de quem escreve para o bem deve ser como o leite materno: produzido com carinho e adequado às necessidades de quem lê, proporcionando-lhe saúde e crescimento. Por que pensei nessa analogia? Simples: porque o texto acima começou a ser escrito numa madrugada, na maternidade da Santa Casa de Tatuí, SP, depois que acordei minha esposa para amamentar nosso recém-nascido filho Mikhael.[MB]